Curadoria do Núcleo de Programação do Museu da Cidade
Com Fabrizio Matos, Jonathan Uliel Saldanha, Ilda David’ e MUMTAZZ
28 FEV–26 DEZ 2020
BIBLIOTECA SONORA
A realidade supera hoje largamente a ficção, obrigando-nos a questionar os formatos tradicionais e a reinventar os seus usos e os seus fins. Como articular o pensamento e a linguagem perante as imagens dos incêndios que destroem as florestas australianas ou a Amazónia? Como aprender com a devastação e com a extinção?
A exposição Livros são árvores, bibliotecas são florestas, inaugura um novo ciclo de programação na sala de exposições temporárias da Biblioteca Pública, agora rebatizada Gabinete do Som e pensada como uma extensão da Biblioteca Sonora, o verdadeiro coração pulsante do Museu da Cidade.
Estas exposições têm por base o magnífico fundo bibliográfico da Biblioteca, verdadeira arca de Noé, que, como outras bibliotecas, arquivos e museus, persiste na nobre, mas talvez — como saberemos? — inglória tarefa de reunir a memória humana num mundo em crise ecológica e em perda da diversidade que estimulou o nosso espantoso imaginário e nos elevou espiritualmente.
Começamos pelos segredos do mundo subterrâneo e as diversas formas de afloração à superfície — tratamos do imaginário rizomático do mundo vegetal e da sua existência híbrida, anfíbia, entre a luz e a escuridão, o mundo do visível e o submundo, a terra e o ar.
A exposição estabelece um eco com Nous les arbres, encenada recentemente em Paris, na Fundação Cartier, mas, ao contrário desta, inscreve-se e emerge de um espaço muito particular, a Biblioteca, centro histórico e simbólico do conhecimento, templo do saber suportado em livros colocados, uns ao lado dos outros, como tijolos.
As bibliotecas são hoje, embora não o tenham sido sempre, lugares em vertigem, que se representam em abismo — fundam-se no exato negativo e como sinalização da nossa condição de precariedade. São naturezas-mortas.
Apresentando livros, páginas de livros, imagens e sons reminiscentes do mundo natural (a botânica, a biologia, as ciências da natureza, mas também a zoologia), a exposição funda-se numa certa circularidade: cortamos árvores para fazer livros, melhor compreender a natureza e guardar a memória da sua exuberância e infinita sabedoria.