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LIVROS SÃO ÁRVORES, BIBLIOTECAS SÃO FLORESTAS

BIBLIOTECA SONORA

La botanique mise à la portée de tout le monde, ou, Collection des plantes d’usage dans la médecine, dans les alimens et dans les arts Nicolas François Regnault Desenhos de Genevieve de Nangis Regnault Paris: Chez l´auteur, 1774 BPMP Cota:U-13-15

A realidade supera hoje largamente a ficção, obrigando-nos a questionar os formatos tradicionais e a reinventar os seus usos e os seus fins. Como articular o pensamento e a linguagem perante as imagens dos incêndios que destroem as florestas australianas ou a Amazónia? Como aprender com a devastação e com a extinção?

A exposição Livros são árvores, bibliotecas são florestas, inaugura um novo ciclo de programação na sala de exposições temporárias da Biblioteca Pública, agora rebatizada Gabinete do Som e pensada como uma extensão da Biblioteca Sonora, o verdadeiro coração pulsante do Museu da Cidade.

Estas exposições têm por base o magnífico fundo bibliográfico da Biblioteca, verdadeira arca de Noé, que, como outras bibliotecas, arquivos e museus, persiste na nobre, mas talvez — como saberemos? — inglória tarefa de reunir a memória humana num mundo em crise ecológica e em perda da diversidade que estimulou o nosso espantoso imaginário e nos elevou espiritualmente.

Começamos pelos segredos do mundo subterrâneo e as diversas formas de afloração à superfície — tratamos do imaginário rizomático do mundo vegetal e da sua existência híbrida, anfíbia, entre a luz e a escuridão, o mundo do visível e o submundo, a terra e o ar.

A exposição estabelece um eco com Nous les arbres, encenada recentemente em Paris, na Fundação Cartier, mas, ao contrário desta, inscreve-se e emerge de um espaço muito particular, a Biblioteca, centro histórico e simbólico do conhecimento, templo do saber suportado em livros colocados, uns ao lado dos outros, como tijolos.

As bibliotecas são hoje, embora não o tenham sido sempre, lugares em vertigem, que se representam em abismo — fundam-se no exato negativo e como sinalização da nossa condição de precariedade. São naturezas-mortas.

Apresentando livros, páginas de livros, imagens e sons reminiscentes do mundo natural (a botânica, a biologia, as ciências da natureza, mas também a zoologia), a exposição funda-se numa certa circularidade: cortamos árvores para fazer livros, melhor compreender a natureza e guardar a memória da sua exuberância e infinita sabedoria.