Adolfo Luxúria Canibal, Andreia C. Faria, António Barros, António Carlos Cortez, Carlos Lopes Pires, Cláudia Lucas Chéu, Cláudia R. Sampaio, Daniel Jonas, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Fernando Luís Sampaio, Fernando Pinto do Amaral, Filipa Leal, Francisca Camelo, Gisela Casimiro, Hélia Correia, Inês Lourenço, João Gesta, João Habitualmente, João Luís Barreto Guimarães, João Rasteiro, Jorge Fazenda Lourenço, Jorge Gomes Miranda, Jorge Vaz de Carvalho, José Carlos Barros, José Manuel Teixeira da Silva, José Rui Teixeira, Luís Adriano Carlos, Luís-Cláudio Ribeiro, Luís Filipe Parrado, Luís Quintais, Manuel Fernando Gonçalves, Manuela Parreira da Silva, Margarida Vale de Gato, Maria Brás Ferreira, Maria João Cantinho, Maria Quintans, Mário Cláudio, Marta Pais de Oliveira, Miguel Serras Pereira, Paulo Campos dos Reis, Pedro Eiras, Raquel Nobre Guerra, Regina Guimarães, Renata Correia Botelho, Rita Taborda Duarte, Rosa Alice Branco, Rosa Oliveira, Rui Lage, Rui Nunes, e Tatiana Faia.
10–30 ABR 2024
RUAS DO PORTO
A poesia foi, desde os começos, o espírito inconsciente dos povos históricos. Magníficos escritores sem nome criaram as mitologias mais estremecedoras ou redentoras, os deuses e as suas obras, os demónios e os seus terrores.
Seguiu-se o aparecimento dos grandes poetas que purificavam a língua, que se debateram com a sua transformação em literatura, procurando outros caminhos para chegar aos povos, a uma experiência de espiritualidade ou a uma ideia de humanidade. “O acto poético é o empenho total do ser para a sua revelação”, diria Eugénio.
Para a revolução, diríamos nós.
O surgimento da poesia em prosa foi sintoma de uma crise profunda das formas, a que se pode aliar o interesse de Rimbaud pelos anúncios nas vitrines e de Kafka pelos cartazes urbanos, mas ainda assim pela poesia concreta, onde a imagem desponta para além do fazer poético da imagem.
Na Revolução Russa, vanguardas estéticas de Lissitzky, Rodchenko e outros, entram de maneira incisiva no espaço público, por via de novas tipografias, imagens e frases poéticas, fixando um imaginário da rebelião e participação coletivas. Muito desta pulsão sobrevive nas redes digitais, onde as frases enxameiam, ou em pichagens de paredes.
A poesia dissemina-se pela vida, ocupa nela um lugar material, circula e entra em movimento. Torna-se, ao mesmo tempo, absolutamente individual e ilumina o comum. A intervenção “Poesia Pública” desenvolve o programa portuense “Revolução, Já!” parte do desafio de articular a máxima singularidade de cada poeta participante com o anonimato coletivo dos cidadãos do Porto, numa partilha comum do desejo latente, mesmo que inconsciente e difuso, da Revolução, sempre em curso de maneira mais evidente ou mais subtil.
Convidámos, assim, 50 poetas portugueses (muitos deles portuenses) para se associarem a esta iniciativa, através da criação de um poema inédito, destinado a um dupla trajetória: o de integrar uma obra original de poemas inspirados no imaginário, experiência, desejo ou pulsão de Revolução – ou de uma revolução, em concreto, em Abril ou aqui e agora; e o de uma pulverização de frases poéticas na cidade, em modo anónimo, ao permitirem que um trecho ou conjunto de versos, escolhidos pelos curadores, circule no espaço comum, nomeadamente através de mupis publicitários da cidade do Porto.
Quais chamamentos, interpelações ou provocações públicas, tais excertos serão assim apresentados, antecipada e individualmente, sem assinatura do autor, visando uma apropriação coletiva e anónima por parte da cidade, quais pequenas doses de óleo depositadas em juntas e rebites da gigantesca máquina social e humana da cidade, no poético pensamento político de Walter Benjamin.
Pedindo de empréstimo a ironia de Manuel António Pina, lembraríamos que “os poetas vão ser colocados em lugares mais úteis”.
Jorge Sobrado
José A. Bragança de Miranda