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Cadernos de Aurélia de Sousa. Coleção Museu do Porto | Casa Marta Ortigão Sampaio. Fotografia de António Alves
O Museu do Porto prossegue a evocação de Aurélia de Sousa no exato dia em que se completam 157 anos sobre a data de nascimento da artista: a exposição Para Aurélia: Desenhos de Fuga, na Casa Marta Ortigão Sampaio, inaugura na terça-feira, 13 de junho, às 17h, uma nova seleção e montagem de pinturas de Aurélia e Sofia de Sousa, num diálogo com intervenções artísticas originais de Ana Allen e Jiôn Kiim, duas artistas da cidade do Porto.
Nesta exposição a quatro, Ana Allen e Jiôn Kiim abrem, de modo inédito, os dois cadernos de artista de Aurélia, ligando memória e futuro, criando a partir desse material outros possíveis, de inspiração telúrica e exótica.
Nas salas de pinturas da casa, as obras de Aurélia e Sofia de Sousa não se apresentam já separadas, mas em diálogo, e a seleção põe em destaque as tipologias do retrato e autorretrato, da paisagem e de cenas do quotidiano.
No próximo ano, o Museu do Porto levará a cabo uma reformulação mais profunda dos diferentes espaços da Casa Marta Ortigão Sampaio, incluindo o seu quase secreto jardim.
O desafio lançado a Ana Allen e Jiôn Kiim para esta exposição foi o de “criar paisagens ou objetos que se constituíssem como reverberações da sensibilidade das artistas residentes ou do espírito deste seu habitat, na tão singular morada que José Carlos Loureiro projetou por encomenda e ao gosto da sobrinha Marta Ortigão Sampaio”, explica o diretor do Museu e Bibliotecas do Porto.
“Os temas, propostas e práticas próprias de Allen e Kiim estabelecem um promissor jogo de correspondências e evocações com os universos simbólicos de Aurélia e Sofia, interpelando-se reciprocamente, numa abertura desafiante aos visitantes”, acrescenta Jorge Sobrado.
“Remexendo o baú fotográfico de Aurélia e Sofia, os seus álbuns de família, constelamos ainda um inédito atlas imagético”, conclui o diretor do Museu e Bibliotecas do Porto, notando que estas mais de duas centenas de fotografias compõem um puzzle familiar, que abre ligações entre as pinturas, desenhos e esculturas.
Dois cadernos
“Apresentamos pela primeira vez dois cadernos de desenho de Aurélia de Sousa, cadernos que reúnem em si toda a força que alicerça a poética expositiva”, congratula-se a dupla de curadoras de Para Aurélia: Desenhos de Fuga, Cristina Regadas e Rita Roque. “Dois cadernos de desenhos, um de registo mais fragmentário e etéreo, que apresenta 41 desenhos, elaborados entre 1892-1894, outro álbum de desenho com maior dimensão desenvolvido na Académie Julian — ao tempo uma das mais importantes escolas de arte de ensino particular em Paris, com ênfase no desenho — composto por 30 desenhos elaborados entre 1900 e 1901 que representam estudos anatómicos, sem fronteiras de género.”
Ana Allen (n. 1985, Porto) vive e trabalha no Porto. A prática artística de Allen tem vindo a ser desenvolvida em torno de temas paradigmáticos da pintura, na procura do diálogo entre o legado e a transformação, transpondo a conjugação e a dimensão dicotómicas do mundo imagético – entre o abstrato e o figurativo, histórico e contemporâneo, o natural e o artificial, o analógico e o digital.
Jiôn Kiim (n. 1982, Busan, Coreia) vive e trabalha no Porto desde 2017. A sua prática transdisciplinar, centrada no desenho, abrange a pintura, a fotografia e a instalação. Numa procura pelo incerto e a alegria, os seus trabalhos afastam-se da interpretação e do pensamento lógico, para assim serem superfícies de atenção ao momento presente, concentrando-se nos gestos e nas substâncias que compõem áreas pictóricas de limites indefinidos.
Programação paralela
As duas artistas protagonizarão uma conversa, moderada por Marta Bernardes, num convite à reflexão sobre o duplo movimento que se apresenta em Para Aurélia: Desenhos de Fuga: homenagem e mergulho nos Cadernos de Aurélia de Sousa, por um lado, e de atualização e diálogo com estas preocupações e investigações, por outro. A sessão decorre na Casa Marta Ortigão Sampaio, na quinta-feira, 15 de junho, às 18h.
No dia seguinte, em duas sessões (19h e 19h30), inaugura-se no Museu Romântico o ciclo «Dança no Museu», que configura a articulação entre as artes visuais, a dança e o vídeo. O projeto propõe a criação de dois objetos artísticos – uma performance-instalação e um vídeo-dança – em torno de obras de arte existentes em seis espaços do Museu do Porto.
A conceção geral do projeto é de Joana Providência, que dirige a performance/vídeo-dança «Criação #1: Aurélia de Sousa / Santo António (Autorretrato), C.1902», a partir da pintura icónica de Aurélia de Sousa, o seu autorretrato enquanto Santo António, que integra a exposição Metamorfoses: Imanência Vegetal, Mineral e Animal no Espaço Doméstico Romântico, patente no Museu Romântico.
Posteriormente, em setembro, Jiôn Kiim conduzirá a performance participativa Sala de chá no jardim da Casa Marta Ortigão Sampaio, inspirada nas cerimónias do chá da China, Japão e Coreia, e na qual incorpora elementos naturais do jardim, bem como peças da coleção da casa que terão sido utilizadas pela própria Marta Ortigão Sampaio. Para outubro está marcada a Aula de Desenho no Jardim, com Ana Allen.
A exposição Para Aurélia: Desenhos de Fuga estará patente na Casa Marta Ortigão Sampaio até 28 de janeiro de 2024. A entrada é gratuita, tal como em todas as atividades paralelas.