Com A Recoletora e a herbalista Fernanda Botelho
24 FEV 2024 15:00–17:00
CASA DO INFANTE
Muitos de nós carregam no nome a extrema importância que as plantas tiveram e têm no desenvolvimento da nossa civilização. Flora, Margarida, Rosa, Jasmim, Jacinto, Violeta, Narciso, Floriano, Dália são apenas alguns exemplos de nomes próprios frequentemente escolhidos no nosso país que remetem para a vegetação, sendo neste caso evidente uma predileção pelas flores. Contudo, é nos sobrenomes que esta ancestral dependência dos seres humanos pelos seres vegetais é mais notória. Muitos dos apelidos portugueses têm origem toponímica [a toponímia deriva do grego topo “lugar” + onímia “nome”, e diz respeito ao estudo da origem e etimologia dos nomes dos locais], aludindo principalmente a nomes de árvores, que serviam para identificar alguém que viveu num lugar onde essa espécie existia, como é o caso dos apelidos Oliveira, Pereira, Carvalho e Silva, o mais utilizado pelos portugueses (9,44% da população), ou com uma tipologia de vegetação característica, como por exemplo os apelidos Matos e Campos. O mesmo acontece com a toponímia da cidade, que apresenta muitos nomes comuns das plantas que em tempos remotos povoaram as diferentes localidades que hoje a constituí.
Nesta oficina, vamos tornar evidente a relação da flora com os topónimos do Porto. Tendo como ponto de partida um mapa gigante da cidade Invicta, vamos convidar os participantes a procurar e sublinhar as ruas, freguesias, largos, parques, alamedas, avenidas, travessas, bairros, praças e vielas que têm nomes de plantas (Ponte do Freixo), nomes de pessoas que remetam para plantas (Rua Ramalho Ortigão), nomes de profissões relacionadas com plantas (Calçada das Carquejeiras), plantações (Rua do Souto), ecossistemas específicos (Escadas do Codeçal) ou até mesmo partes de plantas (Rua do Espinho).
Feita a listagem e mapeamento das espécies, vamos conhecer os seus nomes e famílias botânicas, analisar a morfologia de exemplares vivos, aprender os seus variados usos etnobotânicos — como fonte de alimentos, remédios, fibras e corantes — bem como partilhar algumas curiosidades histórico-culturais com elas relacionadas, tanto ao nível regional como global.
Pretende-se com esta oficina evidenciar os resquícios da “pele vegetal” que cobriu a região no passado e inspirou o nome dos espaços públicos e privados da nossa cidade de hoje, mas também consciencializar para o vastíssimo património de uso cultural das plantas que herdamos e que é urgente dar a conhecer, usufruir e cuidar.
A inscrição nesta oficina inclui a oferta de um caderno de notas.
A Recoletora é a prática comum do artista Alexandre Delmar e da designer Maria Ruivo, dedicada ao estudo dos lugares de reciprocidade e interação entre as comunidades humanas e as vegetais. O nosso trabalho alia uma ação contínua de pesquisa, inventariação e mapeamento das plantas espontâneas comestíveis ao resgate de conhecimentos ancestrais e contemporâneos, propondo uma redescoberta da cidade através da recoleção e da deambulação pelos territórios do baldio urbano e da paisagem construída.
Juntamos botânicos, herbalistas, chefs, artistas, arquitetos e designers num projeto colaborativo e itinerante, que tem como objetivo trabalhar as temáticas relacionadas com a autonomia alimentar, a recoleção, o herbalismo, os saberes-fazer tradicionais, a paisagem, a memória, a etnobotânica ou a literacia ecológica, promovendo ações participativas como cartografias, caminhadas guiadas, workshops, refeições partilhadas, performances, conversas, exposições e publicações.
Fernanda Botelho (Sintra, 1959; vive e trabalha a partir de Sintra) é especialista em plantas silvestres, nomeadamente nos seus usos medicinais e culinários. Viveu 17 anos em Inglaterra onde fez formações em Botânica, Fitoterapia e Pedagogia. Estudou plantas medicinais na Scottish School of Herbal Medicine (1997). Tem o Curso de guia de jardim Botânico da Universidade de Lisboa (2006). É colaboradora do programa Eco-Escolas e autora de uma coleção de livros infantis: Salada de Flores (2011), Sementes à Solta (2013) e Hortas Aromáticas (2016). Escreveu As plantas e a saúde (2013), Uma mão cheia de plantas que curam — 55 espécies espontâneas em Portugal (2016), Ervas que se comem (2021), Flores que se comem (2022) e o recém-lançado Plantas do Mundo (2023). Publica anualmente, desde 2010, uma agenda de Plantas Medicinais. Organiza passeios guiados e workshops de reconhecimento de plantas a convite de várias entidades. Colabora, desde 2021, com A Recoletora.
INVENTÁRIO
Inventário participado de ruas, edifícios, lugares, obras de arte pública, da cidade. Ler as ruas, lugares e edifícios, conduzir o olhar, olhar de outras formas e documentar, a partir de registos fotográficos, gráficos, escritos, os elementos observados.
Inscrições encerradas.
Rua da Alfândega, 10
4050-029 Porto
Direções
500, 900, 901, 906, ZM, ZR, 1
S. Bento
Praça do Infante D. Henrique