Orientado por Tomás Cunha Ferreira, Alexandra Balona, João Sousa Cardoso, Joaquim Moreno, António Fontinha, Marta Bernardes, Pedro Bandeira e Jorge Leandro Rosa
SEG 21, 28 FEV, 7, 14, 21, 28 MAR, 4, 11 ABR 18H—20H (8 sessões)
21 FEB–11 APR 2022
Auditório Biblioteca Municipal Almeida Garrett
RaizFasciculada_leituras@JoaoPereira4
Botânica e ecologia, pintura de género, contos populares, música, cinema, são alguns dos temas do universo da coleção Raiz Fasciculada. Este curso alarga-se a 8 singulares sessões orientadas por alguns dos autores destes fascículos disponíveis nas Bibliotecas, e cujo processo de trabalho está também em exposição no Gabinete Gráfico da Biblioteca Municipal Almeida Garrett.
INSCRIÇÃO COMPLETA RAIZ FASCICULADA até 18 FEV:
25€ / 12,5€ para utilizadores inscritos nas Bibliotecas Municipais do Porto e cartão Porto.
INSCRIÇÃO POR SESSÃO até sexta antes da sessão da segunda seguinte:
5€ / 3€ para utilizadores inscritos nas Bibliotecas Municipais do Porto e cartão Porto / Limitado à lotação do auditório
+ info e inscrições aqui ou em bmp@cm-porto.pt / 225 193 480
Harry Everett Smith auto-definiu-se como cineasta de truques, falso alarme de incêndio, diabólico, alcólatra, e por aí afora. Allen Ginsberg foi mais conciso: Harry Smith era o mestre do microfone – instrumento que usou tanto para registrar o mundo, quanto para reclamar contra ele em volume alto e distorcido. Mas sempre por puro fascínio, sempre para erguer pontes improváveis, sempre por humor e amor. A única maneira de abarcar o seu trabalho, é retirar os obstáculos do caminho, e deixar que continue.
Tomás Cunha Ferreira (1973) vive e trabalha em Lisboa. Artista plástico e músico, o seu trabalho propõe zonas de desvio e circulação livre entre pintura e palavra, texto e imagem, tomando os termos propostos pelo poeta concreto Dom Sylvester Houédard – quasepintura, quasepalavra, como forma de leitura de diferentes formatos e suportes possíveis. Exposições recentes: Desdesenho, Gabinete de Desenho do Museu da Cidade, Porto; Pequenos Fogos, com José Leonilson, Brotéria, Lisboa; Panapanã, Galeria Athena, Rio de Janeiro; As Is, Galeria Emmanuel Barbault, Nova Iorque. Com Domenico Lancellotti faz o programa Colapso, na Rádio Estação, e com Matilde Campilho, o programa Pingue Pongue, na Antena 3. Na música, em disco ou ao vivo, apresenta-se a solo e outras formações: Com(1), Os Quais, Lambe Lambe, Syndi Cats, etc. Em 2020 lançou o disco Vai Começar, produzido pelo carioca Pedro Sá, com edição vinil em 2022.
Partindo da reflexão sobre a performatividade queer no músico Yves Tumor, propomos uma digressão em torno do prodigioso e desconcertante mundo coreográfico de Marlene Monteiro Freitas. Pautada por uma abertura ao imponderável, pela articulação de matérias dissonantes, pelo transformismo e deslocamento de cânones pré-estabelecidos, as obras de Marlene são entidades vivas que existem no encontro vertiginoso entre as forças da performance e as emoções do público.
Alexandra Balona é investigadora e curadora independente. Licenciada em Arquitetura, concluiu um doutoramento em Estudos de Cultura sobre a politicalidade da obra coreográfica de Marlene Monteiro Freitas. Foi co-curadora de Anton Vidokle: Cidadãos do Cosmos (Rampa, 2021), de Um Elefante no Palácio de Cristal (Ping, GMP, 2021), entre outros. Escreve no Público, Contemporânea e Art Press.
No novo tempo cultural em que habitamos, as fantasmagorias do mundo digital coabitam com os imaginários arcaicos, desenhando figuras transtemporais e ambivalentes de grande potência. Sendo as imagens um sistema de ecrãs propiciatório às projecções mentais das sociedades num momento do seu desenvolvimento, que qualidades mobilizam, que aventuras comportam e para que geografias apontam nesta década de 20?
João Sousa Cardoso. Doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Paris Descartes (Sorbonne). Encenou Sequências Narrativas Completas, a partir de Álvaro Lapa, com estreia no Teatro Nacional D. Maria II, em 2019. Dirigiu o TEATRO EXPANDIDO!, no ano de reabertura do Teatro Municipal do Porto, em 2015. Publicou os livros Sequências Narrativas Completas e A Espanha das Espanhas, em 2020. Professor na Universidade Lusófona. Escreve regularmente ensaio para a revista Contemporânea e o jornal Público.
A situação: um seminário sobre televisão numa escola de arquitetura; a lição de coisas: a visita ao edifício da Companhia Britânica de Difusão; a surpresa: a alegoria no átrio de entrada, um semeador com a inscrição bíblica em latim: Deus Incrementu Dat. A convergência da sementeira, do seminário e da difusão / emissão (por falta de melhor tradução do inglês broadcast), assim sobrepostas, permitiu ver o quanto as diferenças excediam o contorno, para parafrasear a analogia poética de António Quadros, e aprender com o transporte, pensar umas coisas com outras, fazer uma plantação cooperante, como o feijão que se enlaça no pé de milho e a folhagem larga da abóbora que protege o solo com a sombra das três irmãs dos cultivos das primeiras nações americanas. E se é a partir da raiz etimológica comum que estas palavras ramificam e divergem, é a sua confiança partilhada na semente que engendra um laboratório de diferendos para as cultivar em conjunto.
Joaquim Moreno (Luanda 1973) é Arquitecto pela FAUP, Master pela Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona e Doutor em Teoria e História da Arquitetura pela Universidade de Princeton. Desenvolveu atividade docente na Universidade de Columbia, Universidade de Princeton, Universidade de Syracuse, Universidade do Minho, Universidade Autónoma de Lisboa, ISCTE e Architectural Association. Actualmente é Professor Auxiliar na FAUP. Foi curador, com José Gil, da representação Portuguese na Bienal de Arquitectura de Veneza (2008), e com Paula Pinto, da exposição Carlo Scarpa, Túmulo Brion – Guido Guidi (2015) no CCB , responsável pelo livro The University is Now on Air, Broadcasting Modern Architecture (2018) e pela exposição Contadores de Histórias (2022) no MAAT. O livro e a exposição Radar Veneza: arquitectos portugueses na Bienal 1975-2021, com Alexandra Areia, é o mais recente resultado publicado.
O prazer de contar e ouvir contar histórias tem vindo a ser recuperado em múltiplos contextos. Mergulhando nesse jogo, despertamos para uma prática milenar e confrontamo-nos com o legado das tradições orais. E que expressão terá hoje, esse imaginário?
António Fontinha, pioneiro do movimento de narração oral em Portugal, vive exclusivamente desta atividade e, em 30 anos de carreira, dinamizou milhares de sessões de contos para diversificados públicos.
A obra de Aurélia de Sousa é tão singular e valiosa que nas últimas décadas tem recebido uma atenção crescente, uma redescoberta não só nacional como internacional. Mas o arrojo de Aurélia é maior do que o de ter sido uma enorme pintora: foi-o sendo mulher, artista, culta, solteira e provocadora na transição do séc. XIX para o XX, em Portugal. São famosos sobretudo os seus autorretratos. E é precisamente a partir do mais intrigante dos seus autorretratos, o seu Santo António de 1902, que partimos para uma indagação em voz alta, partilhável, que mistura os olhares e as escutas: os históricos, os estéticos, os literários, os filosóficos, os materiais, os religiosos, os afectivos. O rigor da aproximação a esta obra não será o académico, mas a do rizoma das poéticas que ela convoca e invoca. Quem vos falará serei eu, na minha humilde paixão por esta obra, eu, mulher artista, aspirante a pedagoga, devedora devota desta artista.
Marta Bernardes (Porto 1983) é licenciada em Belas-Artes pela FBAUP e Mestre em Filosofia da Cultura e Psicanálise pela UCM Madrid. Desenvolveu um trabalho de Doutoramento em torno da Voz como figura ontológica do pensamento ocidental, na mesma universidade. Trabalha como poeta, artista visual, teatral, performativa e musical desde 2005. O seu trabalho como artista oscila sempre entre a palavra escrita, o desenho, a cena e a potência da oralidade. Atualmente é Gestora de Projectos Educativos do Museu da Cidade do Porto.
Tendo como ponto de partida os debates em torno da ecologia nos anos 70, esta sessão será ilustrada por projetos de arquitetura de caráter utópico desenvolvidos na Escola Superior de Belas Artes do Porto em pleno PREC. Na sequência desta temática, serão também apresentados alguns projetos mais recentes de Pedro Bandeira.
Pedro Bandeira (1970), arquiteto (FAUP 1996), é Professor Associado na Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho e membro investigador do Lab2PT. Autor de diversas publicações no âmbito da cultura arquitetónica, venceu, o Prémio Obra Sustentabilidade e Inovação (2021) da Ordem dos Arquitetos e do Fundo Ambiental.
Passou a época das imagens do mundo. O mundo saiu da sua representação, como diria o filósofo Jean-Luc Nancy. Muita da inquietação que nos atinge hoje tem a ver com esta ausência. Continuamos a atravessar o mundo de um lado ao outro, como se essa fosse a sua razão de existir remanescente. O mundo parece ser hoje uma rede de travessias cegas, sem destino e sem horizonte. Interrogar e reinventar as imagens da Terra, como sugerimos no Fascículo «Geomorofologia» (Fascículo #13 do Museu da Cidade), são agora tarefas vitais. Como tocar as forças terrestres que se animam fora da nossa vista? Como voltar a representar a nossa ligação à Terra? Nesta conferência, percorreremos alguns dos acessos à Terra que ainda parecem praticáveis: pela relação problemática com a biosfera, pelo simbólico ou pelas ciências da Terra, pelos mapas e o seu imaginário, pelas artes e pela literatura, pelas espiritualidades e pela filosofia, pelo localismo ou pelo cosmopolitismo.
Jorge Leandro Rosa é ensaísta e tradutor. Escreve sobre estética, literatura e artes, mundo contemporâneo, ecologia política, mudança climática e filosofia da Terra. Traduziu e colaborou com autores como Jean-Luc Nancy, Emanuele Coccia, Georges Didi-Huberman, Jacques Rancière, etc. Em 2019, organizou na Faculdade de Letras de Lisboa um Colóquio sobre a Geopoética, trazendo a Portugal o seu fundador, o poeta e pensador escocês Kenneth White.