INVENTÁRIO #22 — PARTILHAR PÉROLAS COM PORCOS: ALIMENTAÇÃO À BASE DE BOLOTA

Assim que pensamos em bolota enquanto alimento, a maioria de nós pensa em porcos. Todos sabemos que a carne dos porcos pretos da raça Alentejana é das mais saborosas, precisamente por serem alimentados a bolota, num regime de pastoreio. O que muitos não sabem, é que todas as bolotas de todos os Quercus (espécies como os carvalhos, as azinheiras ou os sobreiros) são comestíveis e extremamente saudáveis para nós, humanos.

Para além de serem alimentos muito nutritivos e abundantes, as bolotas são de produção e processamento surpreendentemente fáceis. São frutos de árvores perenes, ou seja, vivem muitos anos e não exigem quase nenhum cuidado por parte do homem; em simultâneo, são plantas extremamente produtivas. A bolota tem imensos e surpreendentes benefícios para a saúde: contém as 17 proteínas essenciais de que necessitamos, é rica em fibra e proteína mas não tem glúten, fator que a torna particularmente interessante para doentes celíacos; possui um alto teor antioxidante e é muito rica em compostos que podem ajudar ao combate de doenças como o cancro e o Alzheimer. Neste inventário inteiramente dedicado à bolota, vamos percorrer, passo-a-passo, as etapas do processamento culinário da bolota — do fruto à farinha —, indispensáveis a torná-la mais digerível e agradável ao palato. Começamos com um breve passeio coletivo, para aprendermos a apanhar, selecionar e identificar as diferentes espécies de bolotas in situ. De seguida, instalados na nossa cozinha ao ar livre improvisada, vamos conhecer os seus benefícios nutricionais e medicinais à medida que aprendemos sobre os diferentes métodos de desamargamento (fermentação, cozedura, secagem, germinação, etc.). Vamos ainda descascar, torrar, triturar e moer bolotas para fazer farinha, com a qual se podem elaborar inúmeras receitas, como pães, biscoitos, bolos, hambúrgueres, molhos, patés ou bebidas. No final, provamos um pão de bolota e uma reconfortante infusão da mesma, considerada um substituto do café (sem cafeína). Sentimos a textura aveludada e comprovamos o seu sabor único, que conjuga o doce com o adstringente.

Inclui a oferta de um caderno de notas e de um pequeno guia prático sobre o tema.

PONTO DE ENCONTRO
Quinta de Bonjóia — Entrada Sul (junto ao parque de estacionamento)

A Recoletora é a prática comum do artista Alexandre Delmar e da designer Maria Ruivo, dedicada ao estudo dos lugares de reciprocidade e interação entre as comunidades humanas e as vegetais. O nosso trabalho alia uma ação contínua de pesquisa, inventariação e mapeamento das plantas espontâneas comestíveis ao resgate de conhecimentos ancestrais e contemporâneos, propondo  uma redescoberta da cidade através da recoleção e da deambulação pelos territórios do baldio urbano e da paisagem construída.
                Juntamos botânicos, herbalistas, chefs, artistas, arquitetos e designers num projeto colaborativo e itinerante, que tem como objetivo trabalhar as temáticas relacionadas com a autonomia alimentar, a recoleção, o herbalismo, os saberes-fazer tradicionais, a paisagem, a memória, a etnobotânica ou a literacia ecológica, promovendo ações participativas como cartografias, caminhadas guiadas, workshops, refeições partilhadas, performances, conversas, exposições e publicações.

Landra é o nome dado à terra e à prática artística e pedagógica de Sara Rodrigues e Rodrigo B. Camacho (Porto / Funchal, 1990), prestando homenagem às bolotas, chamadas de landras no Noroeste Ibérico. A dupla revê nelas uma cultura de autonomia, de soberania e de autossuficiência que procura recuperar, alinhando-se com uma prática de viver e fazer em sintonia com os ritmos e ciclos naturais. Vivem em Cabeceiras de Basto, onde desenvolvem uma agrofloresta desde 2020.

INVENTÁRIO
Inventário participado de ruas, edifícios, lugares, obras de arte pública, da cidade. Ler as ruas, lugares e edifícios, conduzir o olhar, olhar de outras formas e documentar, a partir de registos fotográficos, gráficos, escritos, os elementos observados.

INSCRIÇÕES

Inscrições encerradas.

ENDEREÇO

Rua de Bonjóia, 133