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Natureza da/na escuta: o MdC sopra palavras como paisagens na Feira do Livro

© Rita Roque

28 Agosto 2020

 

É no contexto da Feira do Livro do Porto que uma das principais propostas do projeto para o Museu da Cidade inicia a sua manifestação: o eixo sonoro.

 

Enquanto se retoma o enraizamento das 16 estações, muitas implicando empreitadas de requalificação de equipamentos ou reformulação dos seus projetos museológicos, o recém-fundado museu à escala da cidade continua a descobrir-se, irradiando agora os Jardins do Palácio com paisagens sonoras feitas de palavras, composições, sopros e silêncios.
Contrariando a hipervalorização da imagem, que ora se perpetua, ora se questiona nos atuais contextos museológicos, o Museu da Cidade propõe, desde o lançamento do projeto em fevereiro deste ano, a importância do som e da experiência da escuta.

 

O Núcleo de Programação do Museu da Cidade, dirigido por Nuno Faria, também coordenador do programa da Feira do Livro do Porto deste ano, acrescenta a Rádio Estação e os Ecos da Biblioteca Sonora às ofertas desta edição.

Durante todo o período e horário da Feira do Livro, a Rádio Estação acompanha os passeios do visitante pelo recinto e sintoniza a energia da feira captada em tempo real, com conversas, informações e as palavras dos seus protagonistas. Os espaços são convocados por paisagens sónicas, narrativas e composições de Jonathan Uliel Saldanha, Hugo Carvalhais, Pedro André, Pedro Augusto, Pedro Tropa, Pedro Tudela, Dr. Urânio, Ricardo Jacinto e do Colectivo Espaço Invisível (Samuel Martins Coelho + Nuno Preto), entre outros artistas. Por outro lado, a Rádio é a possibilidade de estender as lotações limitadas dos espaços neste contexto pandémico, transmitindo em direto as Lições, os Concertos de Bolso, as conversas Certos Outros Sinais moderadas por Fernando Alves, a sessão especialíssima das icónicas Quintas de Leitura e as Conversas Situadas, segmento do programa comemorativo do bicentenário de 1820 – Revolução Liberal do Porto. Para ouvir em feiradolivro.porto.pt e numa frequência(MHz) de 15 km em 91.5 FM.

 

Estreia hoje o programa Ecos da Biblioteca Sonora que ensaia um primeiro passo de propagação sónica pela cidade. A Biblioteca Sonora, projeto iniciado nos anos 70 e localizado na Biblioteca Pública Municipal do Porto, em São Lázaro, é um tesouro ainda escondido e assume-se agora como coração pulsante do Museu da Cidade. Neste lugar onde a leitura é escuta, para a tornar acessível a pessoas invisuais ou com dificuldade no manuseamento de objetos, um conjunto de voluntários dedicam-se a gravar livros. Nos fins de tarde de terça, quarta e quinta às 18,30H estes leitores revelam-se intérpretes na Concha Acústica, ecoando em polifonia as suas vozes. Ouvimos textos que foram sendo recolhidos durante o período de confinamento no âmbito das exposições Por trás das árvores há um outro mundo, patente até 13 de setembro e Livros são Árvores, Bibliotecas São Florestas, até 26 de Dezembro, respetivamente, no Gabinete de Desenho, na Casa Guerra Junqueiro, e no Gabinete do Som, na Biblioteca Pública Municipal do Porto.

 

Ambos os projetos são desenvolvidos com a cumplicidade do Colectivo Espaço Invisível, presença permanente na transmissão e locução da Rádio Estação e das oficinas e encenação das leituras dos voluntários da Biblioteca Sonora, sob a direção de Nuno Preto.

Duas propostas que transmitem a natureza da escuta, lêem as árvores e mostram o invisível.