Nova 010
Desenho do projeto nº 226 (1945), Arquiteto Bernardino Basto Fabião. Arquivo Municipal do Porto.
© Miguel Nogueira CMP
22 março 2021
Projetada e executada pelo arquiteto Bernardino Basto Fabião (1912-1998), ao serviço da Câmara Municipal do Porto , a Biblioteca Popular de Pedro Ivo foi inaugurada em janeiro de 1948, em pleno Jardim da Praça Marquês do Pombal. O Município resgata agora o equipamento para fins culturais, regressando à génese da sua construção e respondendo aos apelos da comunidade para recuperar aquele espaço público: uma pequena biblioteca que se abre a uma praça e a um jardim.
No entanto, não faz sentido hoje recuperar o uso original da Biblioteca, nem aquele que lhe sucedeu: destinada a servir camadas menos literatas da população, ou transformada em biblioteca infantojuvenil, dada a profusão atual de bibliotecas na cidade, as municipais e as escolares, por exemplo. Este pequeno espaço de 43m2 situa-se num lugar de cruzamento de passantes, mas também lugar de sociabilização, ponto de encontro e ancoragem: constituindo-se agora espaço de escuta e de transmissão oral. Destaca-se, por isso, o seu papel de coesão social muito importante, simbolizando laços entre comunidades e gerações.
Em junho de 2020 o município realizou beneficiações no revestimento vegetal arbustivo e herbácio do Jardim do Marquês circundante, o que permitiu criar um espaço mais aberto ao olhar de quem o percorre, mantendo a sua simetria e colorindo-o através da plantação de camélias e flores de época nas bordaduras de acesso à estação do Metro. Em março de 2021 o edifício foi reabilitado pela Domus Social E.M. a partir do projeto arquitetónico original com marcação na fachada a partir da tipografia desenhada pelo Arquiteto Basto Fabião, redesenho gráfico dos R2 Design.
Arranca agora uma espécie de ano zero de reativação da Biblioteca Popular de Pedro Ivo através de um programa-piloto que integra várias áreas disciplinares para testar que tipo de diferentes usos esta biblioteca pode ter, sempre em ligação com a memória do espaço. O objetivo é experimentar um modelo pluridisciplinar em torno de conceitos como memória, arquivo, infância, leitura, corpo, troca, fronteira, migração, comunidade.
A programação é atribuída aos três departamentos da área da cultura da Ágora, E.M.: Departamento de Museus e Coleções — Museu da Cidade, Departamento de Artes Performativas — Teatro Municipal do Porto e Departamento de Cinema e Imagem em Movimento.
Neste arranque, de 29 de março a 15 de maio, será a Rádio Estação, projeto do Museu da Cidade, a instalar-se fisicamente na Biblioteca Popular de Pedro Ivo constituindo-se como uma pequena biblioteca sonora ao ar livre.
Para o contexto do Jardim do Marquês, a rádio nómada com morada fixa no sítio invisível do site, emite com locução a partir daquele lugar alto da cidade e em 96.3 FM, e estreia novas rubricas:
– Confabulações, com curadoria de Marta Bernardes, responsável pelo projeto educativo do Museu da Cidade, estabelecendo um laço entre a biblioteca-mãe, a Biblioteca Pública Municipal do Porto, que consiste na leitura em ritmo diário de fábulas das mais diversas proveniências temporais e geográficas, para os filhos e para os pais;
– Trabalhar Cansa, com curadoria do sociólogo Bruno Monteiro, em torno de temas e episódios ligados à história e às estórias do mundo industrial do Porto.
– Inventário, da autoria de Luís Aguiar Branco, programa operativo transformado em programa de rádio em tempos de confinamento, uma rubrica já em curso e que conta com episódios especiais sobre a Praça do Marquês.
A instalação na Biblioteca Popular de Pedro Ivo será também a oportunidade para a equipa do Museu da Cidade lançar um amplo inquérito através das Plataformas Públicas, convocando uma maratona de entrevistas com a comunidade artística para uma recolha de depoimentos em torno da vocação do Museu, em sentido amplo, através de um conjunto de questões, tais como: O que pode uma biblioteca, o que pode hoje ser uma biblioteca? Para que nos serve hoje um museu? Que museu para a cidade, que cidade para o museu?